Cor Púrpura

Um retrato subtil daquilo que alguns vêm, alguns fingem que não vêm e outros insistem em não querer ver ...

domingo, abril 29, 2007

Bis ....

"Solamente una vez amé la vita .... solamente una vez nada más..." ecoavam com alta definição as colunas fazendo vibrar a pele que tenho por debaixo de mim...
Sem pressas, sem angústias, sinceramente sem estar em mim sequer, deixei-me levar.
Senti ter engolido um ar daqueles que já não se respira por aqui ... Fui Feliz!
Só me resta esperar ( ... una vez nada más ...).
Obrigada ao som de alta fidelidade!

Há quem escreva assim, com uma cotovia dentro do peito ...

Calma minha gente, o Cor-Púrpura não vai lançar nenhum suplemento literário (não é que lhe ficasse mal, mas já não me parece original).
Seria imperdoável da minha parte deixar passar este Livro em falso.
Chama-se "O Pescador de Girassóis", o primeiro romance de António Santos, um lançamento deste mês da Editorial Presença.
Haja alguém com bom senso neste País.
"Desenganem-se" aqueles que pensam que me vou limitar a citar a contra-capa do livro e resumir-lhes a história a cru. Nem Pensar!
Leiam... Eu já li ... e acreditem no que vos digo, é um romance deliciosamente escrito e inesperadamente viciante.
Psst ... psst ... peço-vos para não saltarem as primeiras páginas, para além de um suposto autografo .... vão encontrar a minha primeira excelente impressão sobre o livro ....
Conheço muitos autores, ja li muito.... mas uma dedicatória como aquela ..... Sublime!

"Quero o raio que o Sol me prometeu!"

"Sigo a estrada que me vai levar ao Sol, há sete dias que caminho sem parar ..."
Alto aí e para lá o baile. 7?
Sete dias é muito tempo e malta começa e ficar cansada ... Pá!
Bem, não é bem cansada, de cansada ... é mais cansada como andamos todos nós neste nosso cantinho seco voltado ao mar e às avessas com ele(s) mesmo (s) .... Se é que me faço entender!
Mas hoje não me apetece falar nisso .... se querem saber mais, ou até não, leiam os jornais.
Retomemos o caminho na estrada do sol, pensem bem. Não é isto mesmo que todos procuramos? O Sol ao fim de um caminho de cansaço e poeira?
Não é por ele que corremos as cortinas todas as manhãs, como se de um ritual de tratasse?; Não é por ele que sujamos as mãos e nos manchamos?; Não é por ele que olhamos para trás com os olhos de quem já viveu com estes ossos?
Se tenho razão ( e olhem que penso que tenho) então porque é que hoje está a chover?
Alguém me explica?!?

segunda-feira, abril 09, 2007

Brincar ao faz de conta ...!

Esta história começa quando todas as outras estão paradas … começa quando tudo dorme. É a história de um sonho que não queria mais nada do que tornar-se real; queria ser de verdade. Começa quando o sono se transforma em sonho, já de madrugada. Após umas horas de sono atormentado por réstias de insónias, começa aqui a história de um sonho.O sonho começa então com todas as coisas boas que a vida tem para nos dar. Um passeio no magnífico jardim de Serralves; um quadro de Dali na parede da sala; um almoço numa torre de uma capital brilhante de um país Europeu; um fim de tarde numa das praias da Tanzânia; um sorriso de quem gostamos; um abraço de um amigo após um dia mais triste que o anterior; um café Blue Mountain depois de um almoço com vista para o Rio; o sabor de uma pastilha elástica; uma chamada de longa distância; uma música que não ouvia há anos; até mesmo o cheiro de um perfume que se usa quando se é criança, enfim; este sonha seria a concretização de todas as coisas boas que sabemos que existem mas as quais não vemos acontecer no nosso dia-a-dia.O sonho é sem dúvida o sonho mais bonito que alguém pode ter. Mas como qualquer sonho tem um grande contraponto … a desilusão e frustração de quem acorda. Na verdade, o sonho não consegue ser real; não consegue porque não passa daquilo mesmo, vai ser a vida toda um sonho; um recanto de imaginação que nunca alcança o seu verdadeiro sonho, que era ser de verdade.

quarta-feira, abril 04, 2007

Ao Deitar!

Passavam poucos minutos da hora em que o sol se foi deitar ... Não estava de noite... mas o cheiro a sonho pairava no ar com uma intensidade de fazer vibrar a janela que vê o mar!
Consegui senti-lo a atravessar-me, a percorrer aquelas quatro paredes de algodão num corropio sem razão.
Tentei que me deixasse fazer parte dele. Armou-se em superior. Não deixou. O sonho.
Fiquei curiosa ... como poderia o sonho, qual ser superior à existência humana, não me deixar ser levada pelos seus enredos cor de mel e pelas suas fantasias de esferovite.
Mas afinal quem é ele? Quem pensa ele que é?
Fechei os olhos com muita força .. fiz notar as rugas de expressão e também as outras e consegui ve-lo ao longe, pouco definido, em tons de maresia e com cheiro a azul ... estendi-lhe a mão, virou-se de costas e começou a correr e disse-me:"Faz -me viver , não me feches em ti ... não me deixes morrer!"

Como hei-de eu assim negar o sonho?

No Vórtice ...

É sentir uma ventosa agarrada às nossas costas, como se quisesse arrancar-nos a alma...
Não o vemos, mas está lá ... Sentimos o seu toque de dor; quase conseguimos "ver" o ar gélido que nos trespassa através do rasgo invisível feito por ela.

Não se vê; não está lá sequer, mas sente-se.
Ànsia???
Sim, mas de quê?
Do vazio presso no eco findável de um vácuo extinto?
Da fome de cultura num país intelectualmente apático?
De um corpo frio a mendigar aquele toque de mel?
De uma necessidade contida de mostrar a verdade quando se vive num mundo de historinhas sem final feliz?
Estamos no vórtice ... se queremos estar ninguém quer saber ... já que estamos lá ... é preciso saber para que lado saltar ...!?!

O Enredo ...

A chuva picava a areia … de leve. Eu comecei a senti-la nas minhas costas; Fria, Forte e a querer impor-se. Não conseguia tirar os olhos do horizonte … o céu estava sentado sob as ondas gigantes que se formavam. A chuva decidiu não arredar pé. Engraçou com aquela praia, não comigo, com aquela areia onde estava sentada.Enrolavam-se como dois amantes, ali mesmo à minha frente.Comecei a sentir-me envolvida naquele erotismo de fim de dia; juntei os joelhos ao meu peito, deixei-me ficar sentada, fechei os olhos e enterrei os punhos cerrados na areia já fria e rija pela chuva.
Não conseguia mexer a boca, tinha os músculos presos pela emoção; o vento deu de si naquela praia e senti-o a abraçar-me.Envolveu-me de um ápice … esqueceu o romantismo e fechou-se sobre mim com uma força! … Fez-me arrepiar a espinha!Levantei-me disposta a abandonar aquela praia, depressa fui atirada para o chão … tinha os olhos semi cerrados, mal conseguia abri-los, ainda via o arrasto daquele relâmpago no céu púrpura.Sacudi a minha saia, atirei a areia sem receios, ainda tinha areia por debaixo das minhas unhas; não me importei!Atravessei o passadiço acompanhada por um relampejar de tal maneira forte que fazia tremer as pequenas tábuas.Encharcada comecei a correr; fugi daquela praia … então aí… a areia, o sol e até o céu começaram num namoro de tal forma bonito que até a chuva parou.
Serei eu?!?

Vazio ... !

De repente o sol tornou-se o artista da tarde ... criava uma arte abstrata por entre a persiana mal fechada ... desenhava na parede branca uma série de linhas que não conseguia perceber ... mas que agora a esta distância já fazem sentido ...
Eu via-o penetrar aquela solidão de uma forma arrogante ... foi rude, não pediu licença para entrar ... mas ao mesmo tempo foi-se desculpando do abuso com o calor que fez percorrer aquela sala vazia de qualquer alma ... Nem a minha lá estava!
Nesse dia menti ... menti a ti, a ele, a elas a mim mesma ... fiz-em crer que ninguém seria capaz de arrancar-me daquela sala negra de aura, carregada de uma falta de afecto que ainda hoje me arrepia ...
Mas estava enganada ... ele foi capaz! Ele aqueceu-me a alma, despertou-me para aquilo que eu parecia ter esquecido, ainda que só por uns momentos.
A ti sol, que como egoístas que somos todos nós creio que te levantas cedinho para brilhar para mim!!
Se não for assim, por favor também não me digas ... o sonho é bonito é assim!