Cor Púrpura

Um retrato subtil daquilo que alguns vêm, alguns fingem que não vêm e outros insistem em não querer ver ...

terça-feira, junho 26, 2007

O Artista da Bola!

Hoje senti-me invadida, como se me tivessem violado a alma e eu assistisse inerte ... Assaltaram a minha quietude, depertaram em mim um choro contido num sussuro a mim mesma. A pé, pelas estreitas e sombrias ruas da zona histórica do Porto vi ao longe uma criança que brincava de "Jogar à Bola" com uma lata de 33 cl de Coca Cola ... aproximei-me! Paramos os dois ... fitámo-nos ... estudámos o olhar do outro, sem pestanejar ... avançei e passei-lhe a mão pelo cabelo; virei-me para seguir em frente ... "o artista da bola" como lhe chamei agarrou-me na mão e disse-me que tinha fome. Não hesitei ... entramos os dois na confeitaria do fim da rua como se fosse aquele um hábito rotineiro entre nós ...
Acanhado e atrevido na sua idade ... comeu ... já atrasada paguei e preparei-me para o deixar ali ... o Olhar dele trespassou-me e numa voz amadurecida à força disse : "Leve-me consigo" "Quer ser minha mãe?"
Chorei ... para mim, mas chorei ... sem resposta para lhe dar prometi-lhe o almoço de amanha ... Afastei-me ... Mais tarde fui investigar ... Descobri que Telmo vive ali, naquele passeio do Porto sem nada nem ninguém ... tudo porque os seus pais morreram e ninguém quer saber dele .
O Telmo não terá familia?
Nao existirão na cidade entidades competentes para o acompanhar?
Irra ...!!!!!!!!!!!
Sinto-me impotente ... Não me consigo esquecer do som da lata de coca cola a bater naquela velha e suja sapatilha ...
(a situação repete-se com outros Telmos, impossivel não reeditar este post)

1 Comments:

  • At 1:43 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Talvez algum dos jornais portugueses - como é no Porto, que tal o JORNAL DE NOTÍCIAS ? - possa marcar em agenda (com carácter de urgência) uma reportagem com o Telmo e a vida que ele...não vive; com este Telmo, para começar. Depois, se tivessem "tomates" para isso, haviam de lhe dar toda a primeira página, com foto de um lado ao outro, prosa como deve ser e uma machete das gordas.
    Se tivessem "tomates", claro...
    "O Cherne"

     

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