Cor Púrpura

Um retrato subtil daquilo que alguns vêm, alguns fingem que não vêm e outros insistem em não querer ver ...

quarta-feira, junho 28, 2006

"A história da sapatilha e do sapato que a ensinou a andar"

A história começa ao cair da noite, quando uma sapatilha é “arrancada” da montra de sapataria onde sempre viveu e levada para casa de um estranho, onde para ela tudo é novidade. Após um percurso sereno mas longo, Wilma, a sapatilha depara-se com uma das coisas de que mais tinha medo; ser fechada num armário com estranhos. Wilma sempre teve medo de estar sozinha e agora era este o futuro que a esperava. Rodeada de sapatos, chinelos e outras sapatilhas, Wilma não queria perceber porque tinha de sair … aliás, porque tinha de estar ali, naquele armário de casa de banho. A noite passou depressa demais para aquela triste sapatilha … nem mesmo o seu par. Faltava muito pouco para que aquela pequena sapatilha saísse de casa pela primeira vez sem ser dentro de um saco de compras. A luz do dia começava a entrar pelas frinchas do armário e Wilma começava a desesperar.
Pouco passava das 10 da manha quando tiraram Wilma e a sua amiga inseparável do armário, tinha chegado o momento. Wilma resistiu a todo o custo … não queria mesmo sair de casa. Nunca o tinha feito; e sentia que também aquele não era o momento ideal para o fazer.
A sua teimosia e medo de enfrentar novos desafios foram mais fortes e Wilma lá ficou em casa naquele dia. Mas aquela situação não podia continuar. Wilma tinha de perder o medo de sair de casa, tinha de ser como todas as outras sapatilhas.
O Agulhas, o sapato, quis fazer alguma coisa para por fim aquela situação. Reuniu todos os sapatos … queria que todos fizessem a Wilma entender que a vida de sapato é mesmo assim, só é vivida fora de casa. Wilma não conseguia perceber que se ficasse para sempre em casa nunca iria ser útil para ninguém e que assim acabariam todos por se esquecer dela. A conversa com o Agulhas durou algumas horas, mas finalmente o velho sapato lá conseguiu que Wilma desse alguns passos. Os primeiros … mas é mesmo assim que se começa.
Foram pequeninos e atrapalhados … pé ante pé … lá conseguiu ser uma sapatilha de verdade e andar. Andou em casa … fora de casa … andava por todo o lado. Tinha aprendido o verdadeiro significado da sua vida e nada a conseguiria parar. Voltou a casa, exausta com os cordões de fora. Era hora de voltar para o armário, mas agora já não tinha medo … via-o como um refúgio depois de um dia a andar sempre de um lado para o outro.
Mas, a vontade de Wilma de caminhar era maior que todo e qualquer cansaço que tivesse. A meio da noite … Wilma prepara-se e sem acordar nenhum dos sapatos que ali dormiam, empurrou a porta e saltou do armário. Não queria perder nem mais um minuto.
Tinha descoberto que afinal a vida de sapatilha também faz sentido!

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