Cor Púrpura

Um retrato subtil daquilo que alguns vêm, alguns fingem que não vêm e outros insistem em não querer ver ...

segunda-feira, janeiro 17, 2005

10 anos de memórias...

O escritor Adolfo Correia da Rocha, mais conhecido como Miguel Torga, morreu faz hoje 10 anos. O desaparecimento de um vulto literário de renome como Torga marcou profundamente o panorâma literário português.
Aqui fica a homenagem do Cor Púrpura a um dos maiores escritores portugueses.


Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Miguel Torga