Blogging e Jornalismo: Duas realidades perto da convergência

Quando tentamos delimitar uma abordagem para a questão dos blogues e do jornalismo é sempre difícil encontrar um ponto de partida. Em relação a este tipo de assunto é necessário ter a noção de que se está a escrever sobre uma matéria muito bem dominada por uns e completamente desconhecida por outros. Por esta razão, que parece suficientemente plausível, interessa dar aos ciber leitores uma visão real do fenómeno de blogging e da actual situação do jornalismo.

Importa também afirmar a ideia de que blogging e jornalismo não são sinónimos, contudo, os actuais indicadores apontam para a sua convergência no futuro. O fenómeno da blogosfera foi referido no nosso país pela primeira vez há cerca de dois anos atrás, todavia, desde então, o seu desenvolvimento foi estonteante. Desde 2002 que a vaga de mediatismo, característico do século XXI, tem feito do blogging um assunto hiper-actual e alvo de interesse por todos, e aos mais diversos níveis.

O que é, então, um blogue? Será uma alternativa aos médios de comunicação social, como dizia, entre outros analistas, Richard Smith? Os blogues não são apenas, como lhes chamou o Jornalista Mário Mesquita, “um órgão de jornalismo informal”; são muito mais do que isso. A blogosfera é um universo de edição pessoal que tem origem em fóruns, daí ser considerado como uma ferramenta individual, e não usada de acordo com as necessidades da comunidade.

A criação de blogues pessoais está intimamente ligada a formas individualizadas de expressão, que são, acima de tudo originais e únicas. Cada um pode escrever quando, onde, e o que quiser sem que ninguém lhe imponha um limite de espaço, ou até regras de ética. A liberdade de expressão é total e irreversível, uma vez publicado um post num blogue sobre um determinado assunto, não há nada que o ciber leitor possa fazer para evitar que aquele post seja lido por mais pessoas. É impossível existir censura na blogosfera. Todavia, a liberdade de expressão existente num blogue não permite ao criador desse mesmo blogue escrever tudo e de qualquer forma, é preciso sempre pensar os assuntos de uma forma racional e sobretudo com uma quantidade de bom senso acima da média.

Música, desporto, actualidade, cinema, opiniões pessoais, comentários ou até sátiras do dia-a-dia político do país podem ser alvo de escrita por parte dos bloggers em todo o Mundo, todavia, a sua utilização não passa só por este itens. É importante que se faça perceber a todos os cépticos no assunto que os blogues são também um local onde outras dimensões são abordadas, dimensões essas que podem ter um carácter literário, sociológico e mesmo científico.

Hoje em dia, devido à quantidade de blogues que existem e também devido à familiaridade que existe para com eles, é muito fácil conseguir formar opiniões sobre o assunto, ou até mesmo concluir que os blogues constituem a continuação do Mundo exterior. Contudo, o fenómeno do blogging é muito “sui generis” porque aponta para a expressão do Mundo de diversas formas, mas que apontam quase sempre para uma direcção futura, a mudança.

Esta mudança é facilmente compreendida na medida em que se está a lidar com novas tecnologias da comunicação que nos permitem alterar conceitos e formas de estar na sociedade que podem até estar bastante enraizados. É precisamente este tipo de mudanças que podem ocorrer com o jornalismo.

Não é possível, muito menos concebível que algum jornalista, ou qualquer profissional da comunicação possa entender que os blogues fazem jornalismo ou que aspiram a fazê-lo. É de conhecimento geral que o mesmo não pode acontecer, nem é essa a realidade da blogosfera portuguesa. Os blogues fazem todos os possíveis, ou pelo menos aparentam fazer, para dar uma aparência séria, correcta e fidedigna aos seus ciber leitores. Contudo, essa tentativa de aspecto sério não consegue transformar os blogers em jornalistas.

A responsabilidade do jornalismo hoje em dia passa, em primeiro lugar, pelos seus profissionais. Contudo, os profissionais da comunicação estão obrigados a regras deontológica e éticas a que os bloggers não estão vincados profissionalmente. Um criador de um blogue, ou até mesmo a pessoa que apenas escreve esporadicamente para esse blogue, não está obrigado a corresponder às expectativas do público da mesma forma que o jornalista está. Há quem fale, hoje em dia, de jornalismo de blogue, mas o próprio nome é em si um paradoxo. O jornalismo é entendido como uma vertente comunicacional recta, objectiva e onde a subjectividade não tem lugar. Por outro lado, a blogosfera é entendida como um espaço aberto á subjectividade e criatividade de quem escreve, lê ou comenta; para além do que se pode querer dar a conhecer, os blogues dão ao blogger a possibilidade de dar a sua opinião. E a opinião neste caso é bastante importante, é ela que separa os blogues dos meios de comunicação social. Por esta razão se pode perceber que jornalismo e blogging são duas realidades distintas que coexistem no mesmo espaço social. Contudo, o facto de serem distintas não significa que não possam ser úteis um para o outro.

Quando se afirma que são duas realidades perto da convergência, não estou a fazer futurologia, apenas a constatar a realidade. Quem ainda hoje não se deu conta que, cada vez mais, os meios de comunicação social abordam assuntos relacionados com o tema da blogosfera. Por incrível que pareça, e ao contrário do que os mais cépticos tinham previsto, a blogosfera tem sido tema de conversa entre os Media e de uma forma mais intensa do que seria esperado.

Ver artigos de imprensa onde se comenta a actual situação da blogosfera portuguesa, ou estar atenta ao mediatismo que determinados blogues atingiram ao ponto de serem notícia em jornais nacionais de grande tiragem é algo inédito no panorama da comunicação em Portugal. Todavia, não deixa de ser uma realidade a que teremos de prestar maior atenção. Perante tal facto, não é possível a nenhum de nós afirmar que o fenómeno da blogosfera não afecta o jornalismo. Pode não afectar directamente e a curto prazo, mas a longo prazo os efeitos vão ser visíveis, e a comunicação social terá a necessidade de dar maior “direito de antena” aos blogues devido ao seu sucesso.

Todavia, a dependência dos blogues em relação aos meios de comunicação social também é visível. Senão veja-se a necessidade que os blogger têm de recorrer aos Media para poder tomar conhecimento do que se passa à sua volta. Se um blogger tiver a intenção de actualizar o seu blogue diariamente e quiser fazê-lo a par com os meios de comunicação social, vai recorrer com muita frequência a estes.

Podemos assim verificar que, num futuro não muito longe, o blogging e o jornalismo vão ser duas realidades muito próximas uma da outra, devido à interdependência que se gerou entre elas. Os blogues não pretendem fazer jornalismo mas são um fenómeno a que é preciso estar atento devido ao mediatismo e ao número de apoiantes que foi reunindo.